Heavy is the crown
Prólogo
Esticando-se, por vezes alcançará o domínio da tua sombra negativa. Nas tuas fantasias e projeções realizadas (das poucas que tens). Mas mesmo que a pontinha dos dedos uses, se tua projeção positiva é alta demais, não terás meio para qualquer dia uni-la a tua sombra. Mais ainda se sombra tua é tombada, vez de desmirada, malgrado que mires bem com a espada, a caneta não falhará e verás tudo desmoronando. Tenha cuidado com aquilo que desejas, porque heavy is the crown.
Sauron em New York
Espécie de discípulo do diabo no universo imaginado de Senhor dos Anéis, o imortal Sauron é tido como o mestre da enganação. No shownzinho pré-adulto "Rings of Power", seres de orelhas pontudas denominados "elfos" têm como principal traço comportamental o "sentido de superioridade" em relação à outras raças. Se acham "os caras", incapazes de mal julgamento e egoísmo, ditos incorruptíveis.
Mas falhos que são, não nega-se que sejam bons em lutar contra Sauron e a produzirem anéis mágicos. Muito desejoso por esses anéis, através da enganação, Sauron convence os elfos à lhe entregarem muitos jóias sem contra ele lutarem. Em cena, o pobre ourives élfico Celebrimbor, após conscientizar-se da enganação perpetrada por Sauron, a este encara e acusa:
- Você é mesmo o mestre da enganação, tanto que enganastes a si próprio.
Mas falhos que são, não nega-se que sejam bons em lutar contra Sauron e a produzirem anéis mágicos. Muito desejoso por esses anéis, através da enganação, Sauron convence os elfos à lhe entregarem muitos jóias sem contra ele lutarem. Em cena, o pobre ourives élfico Celebrimbor, após conscientizar-se da enganação perpetrada por Sauron, a este encara e acusa:
- Você é mesmo o mestre da enganação, tanto que enganastes a si próprio.
Visto por todos como o "Sr das Trevas", Sauron a si próprio via-se como um ser de luz, que traria a tão sonhada paz à imaginária "Terra Média". Enganava aqueles que incorruptos se achavam, afim de aplacar a própria sombra junguiana aterrorizante.
No mundo real dos adultos, talvez o local terrestre que concentre o maior número de seres que se julgam "incorruptíveis" e "acima dos outros", seja a Assembleia Geral da ONU: centenas de chefes-de-estado, cada qual com seu próprio ego inflado. Pois que foi nessa convenção, que no último mês da seca, Benjamin Netanyahu proferiu um dos discursos mais ultrajantes da história das Nações Unidas, com o objetivo claro de enganar os "élficos" chefes-de-estado à contra ele não lutarem e mais, a favor dele recursos fornecerem.
Israel não pode guerrear contra o mundo, e o primeiro-ministro sabe disso. Pois que aos elfos, não se deve incomodar. Sabe também que sem o apoio militar "élfico", a ruína seria eminente. Ali esteve à discursar para os mais poderosos adular, mesmo que as custas do espanto da maioria raquítica.
Apelando ao coração da centro-direita norte-americana (a elite mais poderosa do mundo), bradou as palavras "Irã", "terrorismo" e "defesa" tantas vezes, que até nos mais fortes provocou algum tipo de gatilho relacionado ao 11 de setembro e ao medo que os branquelos sentem de homens barbudos de cor escura. Assim, garantindo o suprimento contínuo de bombas e aviões "Made in USA" enquanto durarem os pelos faciais de Ali Khamenei.
Israel não pode guerrear contra o mundo, e o primeiro-ministro sabe disso. Pois que aos elfos, não se deve incomodar. Sabe também que sem o apoio militar "élfico", a ruína seria eminente. Ali esteve à discursar para os mais poderosos adular, mesmo que as custas do espanto da maioria raquítica.
Apelando ao coração da centro-direita norte-americana (a elite mais poderosa do mundo), bradou as palavras "Irã", "terrorismo" e "defesa" tantas vezes, que até nos mais fortes provocou algum tipo de gatilho relacionado ao 11 de setembro e ao medo que os branquelos sentem de homens barbudos de cor escura. Assim, garantindo o suprimento contínuo de bombas e aviões "Made in USA" enquanto durarem os pelos faciais de Ali Khamenei.
Mas o ouro, o dito fruto de ato meticulosamente planejado e executado, o primeiro-ministro deixou para o final, ao discursar:
To borrow a great poet’s phrase: Israel will not go gently into that good night. We will never need to rage against the dying of the light because the torch of Israel will forever shine bright.
O poeta, do qual ele estrofe rouba e macula, é Dylan Thomas. Famoso por posicionamentos antifascistas, revira-se na cova o poeta, ao escutar suas palavras de boca tão suja. Mas já revirou-se antes, em 2019: o mesmo poema abre o odioso manifesto do terrorista de Christchurch.
Em 15 de março de 2019, o execrável Brenton Tarrant entrou atirando numa mesquita e matou 51 muçulmanos enquanto transmitia ao vivo no Facebook. Já o primeiro-ministro, disse o que disse, e ao sair da ONU ordenou o disparo de 50+ bombas contra um quarteirão em Beirute, matando seis vezes (pelo menos) mais muçulmanos que Tarrant.
Em 15 de março de 2019, o execrável Brenton Tarrant entrou atirando numa mesquita e matou 51 muçulmanos enquanto transmitia ao vivo no Facebook. Já o primeiro-ministro, disse o que disse, e ao sair da ONU ordenou o disparo de 50+ bombas contra um quarteirão em Beirute, matando seis vezes (pelo menos) mais muçulmanos que Tarrant.
Tal como Sauron, Nethanyahu chama para si a liderança de todos os agentes das trevas, enquanto tenta enganar o mundo com sua face iluminada.
Interstício
A sombra de personalidade, conforme descrita por Carl Jung, é aquela parte de nós mesmos que tendemos a reprimir ou negar. Ela consiste em aspectos de nossa psique que não se enquadram na imagem que temos de nós mesmos ou naquilo que a sociedade valoriza.
O conceito de projeção, na concepção de Carl Gustav Jung, é o processo espontâneo em que os conteúdos do inconsciente de alguém são percebidos e direcionados para outras pessoas ou objetos.
Sete horas em Entebbe
Idi Amin era um torturador, depravado. É extensa a lista de técnicas horrendas utilizada por seus capangas e por ele próprio: de esquartejamento até re-membramento. Gostava de dinheiro judeu, mas depois gostou mais de dinheiro árabe e por isso permitiu que os militantes de Abu Hani usassem o aeroporto de Entebbe para o infame sequestro.
A operação de resgaste seguinte é super famosa, rendeu vários filmes. "O último rei da Escócia" é meu preferido, mas lá Yonatan Nethanyahu nem aparece. Por isso falo de "Sete dias em Entebbe", que em péssima cinemática apresenta a morte do irmão mais velho de Binyamin Netanyahu. Morte única entre os 100 comandos sionistas que partiram do Negev, receberam autorização quando já estavam sobre o Mar Vermelho e 7 horas depois haviam completado a missão de resgate.
Nomeada previamente de "Operação de Trovão", posteriormente foi renomeada "Operação Yonatan". O irmão mais velho foi alçado ao posto de herói máximo da nação sionista. Discursos foram escritos em seu nome, livros de suas poesias publicados, parques e escolas batizados. O "Instituto anti-terrorismo Yonatan Nethanyahu" serviu de pedestal político para o irmão mais novo, entre 1976 e 1978.
Filho do meio de um pai ultra-sionista xenófobo, defensor da "grande Israel" do Nilo ao Eufrates, e que supervisionou a família até longevos 102 anos (morto em 2012). O tal "Ben Nitay", que fez a primeira aparição pública em 1978, sempre teve muito o que se esforçar para impressionar o pai, satisfazer a si próprio e sair da sombra do irmão herói.
Filho do meio de um pai ultra-sionista xenófobo, defensor da "grande Israel" do Nilo ao Eufrates, e que supervisionou a família até longevos 102 anos (morto em 2012). O tal "Ben Nitay", que fez a primeira aparição pública em 1978, sempre teve muito o que se esforçar para impressionar o pai, satisfazer a si próprio e sair da sombra do irmão herói.
O vídeo é da TV suburbana de Boston, da época que o irmão-do-meio era colega almofadinha de Mitt Romney no outrora prestigiado Boston Consulting Group. Tão, tão longe das margens hostis do Lago Vitória e do cemitério dos heróis em Jerusalém.
Tão, tão longe de sua projeção positiva ....
Tão, tão longe de sua projeção positiva ....
They love me all
É famosa a entrevista de Gadhafi dias antes de ser deposto, onde ele afirma categoricamente que "todos me amam". Tão famoso quanto (pelo menos na Líbia) é outro vídeo sobre a obsessão de Gadhafi (e todos nós) com o amor, onde ele repetidas vezes pergunta à netinha se ela o ama: ela diz que não!
Foi necessária uma guerra civil, seguida da execução do ditador, para que o mundo visse como era frágil o homem por trás do aço opressor. O arquétipo déspota, alvo-mor do filme "The Dictator" (2012) era no fim de tudo um "ninguém-me-ama" exatamente como caracterizado por Sacha Baron Cohen.
Quanto tempo até percebemos que o padrão de Netanyahu é exatamente o mesmo? Odiado por 70% dos israelenses que o taxaram de político corrupto em março de 2025, segue com quase dois-terços de aprovação pela condução da guerra com o Irã até agora (19/06/2025).
Assim vai indo de guerra em guerra, cada vez maiores, tentando compensar a fama (e firma) de corrupto não-amado.
Assim vai indo de audácia em audácia, sempre autorizando ações militares cada vez mais espetaculares e sanguinolentas para compensar pela morte do irmão herói, da sombra que nunca alcança.
Como Gadhafi, vai à ONU e bate no peito chamando para si a liderança internacional de uma comunidade de países que o vê como "cachorro-louco" e criminoso de guerra. Netanyahu repete o mesmo comportamento de busca pela grandiosidade para compensar uma falta-de-amor que só se satisfaria se tivesse morrido em Entebe junto com o irmão.
Como Gadhafi, vai à ONU e bate no peito chamando para si a liderança internacional de uma comunidade de países que o vê como "cachorro-louco" e criminoso de guerra. Netanyahu repete o mesmo comportamento de busca pela grandiosidade para compensar uma falta-de-amor que só se satisfaria se tivesse morrido em Entebe junto com o irmão.
Muito cuidado, Netanyahu, a coroa que tu queres (tal como Gadhafi) demanda um capa verde ensanguentada dentro de um bueiro da estrada para Sirte ou Beersheva. É uma coroa muito pesada, que só se usa uma vez e na hora da morte.
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