O sertão sem Luar

Acho que nem inhambu descansa-me, de menos um galo triste. Não sou lua nem Luiz Gonzaga, sou é eu e este segundo ano da peste onde nada irá prosperar. Nada!

Em terras que minhas ainda haverão de ser, sendo no hoje de guarda onerosa por dever, grotas são três. Nascentes em terras bem altas, groteabrindo até lagoas em brejos menos altos. Brejinho onde lontra é mato e este é braqueara com ocos de tatu. Ali na noite, onde o que pia é o curiango, inhambu-sururina não se ouve e o que se vê é o branco já transalmado da minha besta ruana, a Russa.

Por 33 anos naqueles pastos ela prosperou, mas duas pestes por sobre a mãe de todas as faltas d'água, fez minha Russa não ver outro janeiro. Matei ela com dois peões, quem me dera ter uma garrucha. Antes e depois chorei de tristeza.

Russa que para os seus, com 33 anos estava para Matusalém. Não para Cristo. Cruz que vejo sendo carregada nessa história, pesa sobre minhas costas. Malungo que sou, na idade do Filho do Senhor.

"Não fiques triste, tua parte você fez" muitos me disseram. E um que fica sentido por ver ente amado em agonia de morte, o fica por si ou pelo outro? Cristão eu sou e egoísmos de jovem deixei para trás modo que nada me trouxeram, Santo Agostinho pois que sigo ó Deus, em seu serviço a perfeita liberdade.

Minha parte fiz, no que me compete o restoio da tristeza. O somar de tudo que se podia, fazer. O feito não prosperado. A caminhada não progredida, o milho não brotado, a vida não nascida e mesmo assim mal terminada. 

A noite escura de terror no meu alto de serra, olhando para a outra serra. Foto minha mesmo.


Cá e lá estive, primeiro rezei para que comigo ficassem mas o tirano não permitiu. Cá e lá, na reza perseverei para que se fosse desejo de Nosso Senhor, que se fossem sem sofrimento na paz do fogo eterno. Mas Deus tem das suas vontades supremas, que não são a minha. Cá e lá, dois altos de serras, dois primeiros distintos, com muita dó fizeram para que se fossem no suave, mas assim não o foram.  Cá e lá, um segundo no suave ainda perseverou, mas violência o destino meio que invocava. Assim, cá e lá descanso tiveram nos fins de tardes, que precedem as noites escuras de terror.

Almas por demais naqueles altos de serras, em vista de sonhos por demais, aflições por demais, esperanças por demais, sofrimentos por demais. 

Em vistas das minas de calcário na mesma estrada adiante, de pedras reduzidas a pó que não caíram para ali fortificar. Mas que adubo falta ali? Por que não prósperas? Ó terra amada!

Em escutas de sons de manjedouras no corredor adiante, onde quem nasce faz do dia Natal para aqueles ao redor. Mas que divina centelha falta para que o Natal se faça também para mim e minha? Ó amada!

Quanto mais lágrimas e preces terei que derramar sobre ti e por ti até que rendam uma safra? Uma rês? Uma prole? Uma família?

Respostas minhas amadas não têm, assim como culpa também não carregam. O rugir que assombra é a ordem dada pelo tirano-mor, o pai-do-que-não-brilha, de que neste ano nada irá prosperar. Estamos será no vale da sombra da morte? Pois que no fim deste vale, rogo ao bom Deus que me reserve pelo menos uma grota pequenina, onde quem me dera eu descanse em paz, abraçado a ti.

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