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Penumbra antes do sol

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[Escrito em 30 de setembro. Publicado em 03 de outubro] Não há noite que dure para sempre. Uma hora o sol a de brilhar, mas antes da luz desinfectante vem a fraca penumbra. É o que vemos hoje no promissor acordo guela-abaixo forçado por Donald Trump contra a vontade das partes envolvidas: não é luz, não é definitivo e pode voltar a escuridão rapidamente. Mas é penumbra. E já é bom ou menos ruim. Dá pra sair de casa sem ter que tatear no escuro. Uma paz forçada é e sempre foi a única opção para dois beligerantes envoltos em guerra total. Totalen krieg não é uma posição estratégica, mas um estado mental psicótico só interrompivel por exaustão. Estava atrasada essa exaustão. Parece que chegou quando o ataque ao Qatar falhou. Eu já havia desistido de prever desenvolvimentos importantes sobre Gaza. A lógica ali desapareceu dia muito. A própria roda da história parece senão quebrada, pelo menos bem atrasada. Chega um ponto que termina o trabalho do analista, porque não há nada p...

O líder que não era

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Ali Khamenei, o supremo líder do Irã, anda sumido. Por 46 anos seu país se preparou para o dia da batalha final contra o Grande Satã e o Pequeno Satã. Mas quando o inferno bateu-lhe a porta, Ali sumiu. Hoje, 10⁰ dia da guerra, a defesa aérea iraniana está dizimada. Israel continua a encontrar e destruir quantidades enormes de munição. Coisas quê não deveriam estar acontecendo se os comandantes de campo tivessem autonomia para inovar e camuflar. A defesa anti-aérea sequer derruba drones (apenas dois até agora), incapaz de executar a mais simples das emboscadas SAM. O ministro das relações exteriores e o próprio presidente, quando falam com a mídia o fazem com lentidão e um comedimento digno de eremitas. Parecem algemados nas ações. A única explicação que tenho para tal letargia é que Ali centraliza tudo, mas vive isolado num bunker qualquer, sem OSINT Twitter para se informar. Olhando em retrospecto, aquilo que escrevi em agosto de 2024 sobre a guerra que se delineava no hor...

Heavy is the crown

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Prólogo Esticando-se, por vezes alcançará o domínio da tua sombra negativa. Nas tuas fantasias e projeções realizadas (das poucas que tens). Mas mesmo que a pontinha dos dedos uses, se tua projeção positiva é alta demais, não terás meio para qualquer dia uni-la a tua sombra.  Mais ainda se sombra tua é tombada, vez de desmirada, malgrado que mires bem com a espada, a caneta não falhará e verás tudo desmoronando. Tenha cuidado com aquilo que desejas, porque heavy is the crown. Sauron em New York Espécie de discípulo do diabo no universo imaginado de Senhor dos Anéis, o imortal Sauron é tido como o mestre da enganação. No shownzinho pré-adulto " Rings of Power", seres de orelhas pontudas denominados "elfos" têm como principal traço comportamental o "sentido de superioridade" em relação à outras raças. Se acham "os caras", incapazes de mal julgamento e egoísmo, ditos incorruptíveis. Mas falhos que são, não nega-se que sejam bons em lutar contra Saur...

Al-Jolani, o estraga-texto

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Ahmed, seu malando. Estragaste meu épico ... tá perdoado. A maré voltará, enquanto a lua orbitar.

Only Beautiful, Please

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Não tarda, (mas se tardar, não passa!) veremos nas nossas telas pixeladas o primeiro míssil balístico Fateh-110 disparado de dentro de um silo subterrâneo nas montanhas de Jezzine, no Líbano. Enquadrado num vídeo com as cores verde e amarelo do Hezbollah, numa sequência tosca e previsível de close-up, close-out e câmera-lenta, câmera-rápida.  O alvo? Atente que se alvo é aquilo que encontra duramente o míssil, o alvo certamente será um interceptador Tamir. Quando explodirem juntos, o soco gritado tão alto será, que o próprio Hassan Tehrani Moghaddam o escutará lá nos idos de 1985 no Irã da "grande guerra imposta". O som não será barulho, mas a bela canção com as letras: Nothing to envy Our father, Marshal Kim Il-sung Our home, in the bosom of the Party We are all brothers and sisters We have nothing to envy in this world My Fatherland has nothing to envy   A gaiola das loucas dos golfos Os opositores do atual governo israelense, criticam o primeiro-ministro por ter na déca...

O épico de Kiryat Shmona

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Sobre as operações de enganação realizadas pelos egípcios afim de garantir a surpresa no ataque de 06 de outubro de 1973, dois pesquisadores da CIA escreveram o seguinte:  Having ruled out the possibility of total war, American and Israeli leaders failed to foresee a limited war because the signals they were receiving did not fit into their preconceived frameworks. É uma conclusão tão óbvia, que nem precisaria ser escrita porque é a generalização de toda ação de camuflagem e confusão perpetrada em guerras: falsear o esperado, mas executar o inesperado. Mestres espiões e generais uníssonos sobre uma mesa de xadrez são figuras de ficção, na realidade não existem. A guerra, como toda empreitada humana de grande escala, tanto é executada quanto planejada por múltiplos. Assim, planos mirabolantes estão fadados ao fracasso, mesmo sem ação do inimigo. Por discordância internas e falta de capacidade operacional dentro do próprio grupo aliado. O movimento de um exército em direção à guerra ...

As cabras que morrem

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Como quando bebês aprendendo a falar, aprendi inglês não no cursinho da tradução, mas do jeito infantil orgânico. Apple para mim é apple, não é maçã. Até aqui quantas palavras estão neste texto? Conte e repare no sentido primeiro de cada uma para você e piscarás no teu cérebro uma sucessão de imagens e acionamentos de redes neurais: emaranhados mentais que dão sentido as letras. Letra , que no dicionário Michaelis define-se assim: - Letra: (sf); (1) cada um dos sinais gráficos que representam um fonema ou um grupo de fonemas e servem para registrar a oralidade em linguagem escrita. Com exceção talvez da própria Henriette Michaëlis, ninguém guarda na mente essa definição do que significa "letra". Cada um é só, na forma como define o que é "letra" e qualquer outro substantivo. O significado das coisas depende da olhar do significador, mas tem hora que acho faria bem cada um ter um Michaelis fincado na cabeça: viveríamos no paraíso talvez. "É pecado matar, seu Pad...